segunda-feira, 30 de outubro de 2017

5ª PARADA: UBATUBA/SP

NA "CASA DE MAINHA"! - SEG, 30/10/17


30,9 Km rodados
Strava: https://www.strava.com/activities/1253945707
Progresso da viagem: 84% (436Km)




Foi com o gostoso barulho das ondas quebrando na praia que a Segunda-Feira amanheceu e me dei conta desta pequena sorte (batalhada, claro): começar uma Segunda-Feira assim, na areia da praia!
Alguns poucos carros adentravam cedo a faixa de areia pelo acesso ao lado do camping e foram estes o meu despertador. Como o destino do dia era Ubatuba, a apenas pouco mais de 30 quilômetros, não me preocupei em estabelecer horário muito cedo para levantar... todavia, eram por volta de 8:00 quando saí da barraca para divisar o pequeno paraíso em que estava! A dormida havia sido boa já que a falta de colchão foi suavizada por um pouco de maciez da areia. Comi uns biscoitos com suco, tranquei a bike e a barraca e fui para a praia! Para o lado direito alguns bares iam colocando suas cadeiras e mesas na faixa de areia para os gatos pingados de visitantes que deveriam aparecer neste dia. Com efeito, o quiosque em frente ao meu camping não abriria por considerar o movimento das Segundas-Feiras fraco demais, fato que a dona do Camping, Semíramis, me prevenira. Com isso, se quisesse almoçar por ali teria de recorrer aos outros quiosques.
Caminhei a praia quase toda a procurar e catar conchas que parecessem interessantes afim de leva-las para minha irmã. Nos restolhos da maré havia muita coisa marítima, desde pedaços de toda a vida marinha até, infelizmente, lixo! Muitas pequenas coisas de plástico, de tampas de garrafa pet a sacos de pipoca! Em dado momento vi uma embalagem de qualquer coisa escrita em coreano... apesar de saber que muitos produtos coreanos já são comercializados no Brasil (e que o próprio porto de Santos não estava longe demais), ocorreu-me o fato de que há muito lixo nos mares oriundos de todos os países costeiros e que esse lixo viaja nas correntes, indo parar muito longe... felizmente o lixo em Estaleiro do Padre ainda era (naquela manhã, ao menos) relativamente pouco! Ao fim da caminhada havia juntado boa quantidade de conchas, inclusive de ermitões e as deixei na cerca do camping. Então fui para o mar dar o último mergulho para despedir-me adequadamente do lugar, a maré nem alta e nem baixa com ondas fracas e a água na temperatura ideal. Em seguida dei uma sondada nos preços das refeições nos quiosques e achei demasiado caro, ainda que a cidade mais próxima estivesse a 30km. Haviam  porções de pescado beirando os 100 reais para uma pessoa! Decidi "almoçar" o que tinha de mantimentos e deixar a refeição de verdade para Ubatuba!
Por volta das 14:00 eu já havia lavado vasilhas e as conchas num tanque em um canto do camping e as roupas lavadas na noite anterior estavam secas em um varal; tomei um banho morno e desmontei a barraca, reunindo todas as coisas dentro dos alforges. No acesso à praia um grupo numeroso de visitantes ia chegando, decerto vindos em excursão de ônibus, como pude constatar depois! Com tudo montado na bike, devolvi as chaves dos banheiros e uma garrafa d´água na porta da casinha da Dona Semíramis, deixei o saco com o lixo que eu produzira para que ela descartasse da forma correta e parti por volta das 15:00! No começo do acesso da praia, à beira da rodovia, dois grandes ônibus de viagens estavam estacionados com mais um grupo desembarcando munido de todas as tralhas praieiras: guarda-sóis, chapéus, bóias, bolas, panelas de comida e muitas sacolas. Parece que o quiosque do camping subestimou aquela Segunda-Feira!
Estrada um pouco movimentada, inclusive de bicicletas nos acostamentos, tanto da gente simples moradora da região em suas velhas e surradas magrelas quanto os ciclistas mais esportivos com as roupas de ciclismo e bikes equipadas. Um pouco à frente passei por dois ciclo-viajantes em sentido contrário, vindos de Ubatuba, um deles com grandes rastafaris e jeitão neo-hippie. Após o rio Quirim começou uma sequência quase initerrupta de subidas e a estrada ofereceu belos visuais panorâmicos encravada nas encostas dos morros, cinquenta a sessenta metros acima do nível do mar. virava para afastar-se da costa e subia mais e mais para reencontrar o mar ainda mais alta, elevando-se até quase 140 metros de altitude; era o morro do Felix, ponto culminante do trajeto do dia. Perto de um mirante parei para descansar e tomar água; estava claro que o corpo reclamava da sequência de 4 dias pedalando uma bike carregada por sobe e desce de morros. A estrada então despencou em uma descida íngreme rumo à praia de Itamambuca, muito indicada na região com aparente boa estrutura e ocupação semi-urbana. Em seguida surgiu a praia Vermelha do Norte com a faixa de areia quase chegando à rodovia, o mar tão próximo que o vento trazia para a pista, além de muita areia, respingos da água salgada! Logo apareceram os limites urbanos de Ubatuba e adentrei a cidade por volta das 18:00 por uma avenida principal, parando rapidamente em um mercadinho para esperar passar uma chuva repentina. No litoral do sudeste as chuvas parecem chegar quase que sem aviso! Prossegui cidade a dentro, algumas ruas em pedras bem assentadas, amigáveis à bicicleta. Logo apareceu uma ciclovia e me dei conta de que estava na cidade mais ciclística que já vira; como haviam bicicletas nas ruas e, aparentemente, os motoristas também sabem compartilhar o trânsito, talvez forçados pelo volume de bikes em circulação. Vi bikes de variadas finalidades: cargueiras barra forte, triciclos com cestos atrás carregando a feira da semana, adultos levando crianças em cadeirinhas na garupa ou à frente, bike puxando pequeno reboque, bike de sorveteiro... uma cidade que escolheu a bike para mobilidades diversas! A ciclovia bastante movimentada margeia a orla onde as praias não convidam ao banho pois estão poluídas e logo vi o causador: o rio Grande vem cortando a cidade ao meio e trazendo toda a imundície para o mar bem ao lado da principal praia urbana da cidade... uma pena!
Virei em uma rua e dei com o campo do aeroporto da cidade, um descampado todo gramado com uma pista de pouso única no meio, cercado por ruas residenciais e com um pequeno terminal. Ali encontrei o HOSTEL CASA DE MAINHA que eu reservara dois dias antes e fui atenciosamente recebido pela Sandra e o Veridiano, os empreendedores do lugar. Consiste em uma grande casa de paredes grossas e janelas guilhotina com forro paulista, paredes com azulejos em ambientes amplos, imóvel notoriamente antigo que o casal acabara de reformar para abrir o recém-inaugurado hostel. Na passagem da cozinha para os quartos até um antigo oratório de madeira faz-se presente e no hall de circulação, uma pia cerâmica trabalhada com arabescos em relevo, do tipo que se vê em filmes de época. à frente um agradável e pequeno jardim e também há um quintal lateral a toda a grande casa. Dois grandes quartos bem iluminados por grandes janelas foram equipados com triliches e armários com capacidade para até nove pessoas com pontos de energia para todas as camas e ventilador. Dona Sandra contou-me que haviam inaugurado o hostel apenas duas semanas antes e que, a priori, estavam programados para opera-lo apenas até o fim do verão, depois do qual o turismo na região praticamente desaparece devido à mudança climática. Depois de colocar a "namoradinha" em um quarto-depósito e os alforges no quarto, tecemos boa prosa com café quentinho; dona Sandra contou-me que também já se aventurara um pouco de bike e que vencera um câncer há pouco tempo. Seu Veridiano é engenheiro e, devido à atual situação econômica, não tem exercido essa profissão, ocupando-se em usar seu conhecimento para ajeitar por conta própria todo o necessário ao lugar.
Além de mim haviam apenas mais dois hóspedes para aquela noite, uma mulher e um homem, de forma que, sendo apenas dois no quarto coletivo, tive muita tranquilidade! Saí com a noite já fechada a pé rumo a um mercado afim de comprar comida, sabonete e xampu. Havia chovido forte logo depois de eu chegar ao hostel e as ruas residenciais calçadas em pedra estavam meio inundadas. A cidade não me pareceu muito insegura com crianças andando sozinhas à noite indo a lanchonetes e até fliperama (sim, ainda existe isso em Ubatuba), coisa hoje rara em Brasília! Caminhando pela orla encontrei o mercado na praça da matriz da cidade e, em seguida, ainda passei em uma grande loja de bugigangas onde comprei uma pulseira-relógio. Na orla, restaurantes e lanchonetes de tamanhos e preços variados movimentavam a noite mas não até muito tarde, com a maioria fechando cedo, antes das 22:00. De volta ao hostel, tomei um ótimo banho e preparei uma lasanha para jantar! Depois de lavar e estender algumas roupas, me recolhi para dormir no conforto de uma cama que não tinha desde a saída em Juiz de Fora! Pela janela do quarto ainda chegava o barulho das ondas quebrando na praia da orla e entrava um friozinho bom de chuva noturna!


Levantei por volta das 8:30 para tomar o café preparado pela dona Sandra; haviam pâes franceses e de queijo, frutas, café, leite e suco! Em seguida fui arrumar tudo para partir. Por volta das 10:00 a "namoradinha" já estava carregada com os alforges e, a pedido de dona Sandra e seu Veridiano, fizemos algumas fotos em frente à entrada do Hostel que disseram querer colocar no site! Achei muito legal terem me revelado a ideia de disponibilizarem futuramente bikes de aluguel para os hóspedes, que seria um diferencial interessante que não vi em nenhum outro hostel! 
Despedi-me deles muito satisfeito com a acolhida caseira no lugar e fui para a praça da matriz afim de fazer algumas fotos. Ali, um belo coreto gradeado com arabescos em ferro fundido fronteia a igreja matriz da cidade, todo o conjunto pintado em azul e branco. Infelizmente a igreja estava fechada para visitação e não pude registrar seu interior! Em seguida, pedalando pela orla, encontrei um curioso monumento da cidade que eu já conhecera em vídeos no You Tube, acompanhando o vlog de viagem de bike de um casal de Vassouras. Trata-se da ossada completa de uma baleia que, dizem, encalhou ali há muito tempo e foi enterrada. Tempos depois desenterraram a ossada e montaram tudo ali, na chamada Praça da Baleia. Sentei-me de frente para o mar para um lanche antes da pedalada do dia e, por volta das 11:00, sai de Ubatuba reencontrando a BR-101.








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