sexta-feira, 13 de outubro de 2017

5ª e 6ª PARADAS - NOITES À BEIRA DA ESTRADA

MUNICÍPIO DE FELIXLÂNDIA - 11/10/17

88,8Km rodados
Strava: 
https://www.strava.com/activities/1225974060

Progresso da viagem: 75,3% (553Km)


Foi com uma algazarra de pássaros que acordei por volta das 6:30 de 11/10/17. O Sol já ia incendiando o horizonte por trás dos morros à beira do lago e havia frescor no ar!
Desmontei a barraca, pus tudo dentro dos alforges, passei no bebedouro pra encher minhas três garrafas: duas caramanholas (uma no quadro e outra no guidão da bike) para me molhar na estrada e uma pet de 2 litros para beber que, para permanecer gelada, ia dentro do alforge enrolada no isolante térmico. Funcionou que foi uma beleza!
Saí do Terminal Turístico Praia-Mar de Minas por volta das 8:30 com objetivo de alcançar Felixlândia. Logo na saída de Três Marias tive de encarar uma subida extremamente íngreme e initerrupta que me elevou 180m acima do lago da represa e, não obstante, alcançada a BR040, prosseguia a subida com mais uns 30 metros de elevação... subi a maior parte empurrando a bike com seus 42kg, parando uma meia dúzia de vezes para descansar, os tênis quase deslizando até mesmo no asfalto grosso. Três Marias não me deixou ir embora sem cobrar muito fôlego!

Neste trecho da viagem a estrada apresentou pouquíssima presença humana em toda a sua primeira metade e o panorama variou muito pouco, de forma que a manhã de pedalada passou-se monótona; cheguei ao Posto Planalto por volta de 12:30, onde parei para almoçar uma comida apenas razoável, provavelmente o restaurante de estrada mais fraco de toda a viagem! Do outro lado da rodovia, quase de frente, parei no posto de auxílio ao usuário da Via 040 onde reabasteci as garrafas com água gelada e fiz o quimo! Com o crescente calor, gafanhotos enormes saltavam do cerrado por todos os lados, alguns com quase um palmo de comprimento! Em seus vôos erráticos pegam-nos desprevenidos no susto, ora batendo com estardalhaço nas portas, paredes e vidros, ora em nós mesmos... morrem às centenas esmagados nas estradas e fiquei imaginando se seriam comestíveis e de sabor suportável ou mesmo agradável... pesquisa para uma aventura selvagem no futuro!

Prossegui viagem e logo adentrava o município de Felixlândia. A tarde rapidamente evoluiu para o dia mais quente de toda a viagem: 38ºC! Mais uns 8 quilômetros e de repente a estrada deixou o sobe e desce acidentado de Três Marias para mergulhar rumo a uma bela planície à frente permeada do verdume artificial das plantações de eucaliptos, de culturas familiares e matas ciliares. A estrada seria quase perfeitamente plana por todo o resto do dia! A rodovia tornou-se agradável e menos abafada, finalmente ensombreada por grandes árvores em ambas as margens, sob as quais os locais montam palhoças e vendem suas produções: mel de abelhas, cachaças e beberagens artesanais, doces em barra e em compotas. Invariavelmente chamávamos todas as atenções, "namoradinha" e eu, com inegável aparência de viajantes e, em uma rápida parada para beber água perto de uma das palhoças, o senhorzinho dali pediu para fazer foto da bike com os alforges. Foi a primeira de várias fotos que a "namoradinha" deixou pelo caminho!

Caia o Sol quando alcancei um trevo de entrada para Felixlândia mas eu já ia gostando de acampar, então decidi seguir um pouco mais para pernoitar no próximo posto da via 040, uns dez quilômetros à frente! Todo o calor do dia ia se dissipando com uma gostosa e constante brisa; armei barraca sob a cobertura traseira do posto, tomei banho de lenço umedecido, saudoso das duchas de água fria do camping de Três Marias, "jantei" uns lanchinhos bem calóricos pra evitar catabolismo. O sinal de internet móvel era péssimo e inconstante, quase insuficiente para mandar as mensagens de "tô vivo" e "tudo bem" para a família! Abrigado por aquele ponto de apoio cercado de cerrado, estrada e escuridão, logo adormeci!
Descida para a planície rumo a Felixlândia





MUNICÍPIO DE SETE LAGOAS - 12/10/17

127,9Km rodados
Strava: https://www.strava.com/activities/1227510477

Progresso da viagem: 92,8% (681Km)


Levantei cedo, por volta das 6:30, na manhã de feriado de Nossa Senhora Aparecida; desfiz rápido o acampamento, tive bolachas doces e salgadas com suco e bananas passas para o desjejum e às 7:30 já estava no asfalto, rumo a Paraopeba. A estrada estava movimentadíssima no sentido Três Marias! Vinham verdadeiros comboios de carros de passeio de todos os tamanhos, a maioria carregada de tranqueiras diversas e puxando, a reboque, variadas embarcações. Traziam caiaques, barcos de pesca, canoas, botes, motos náuticas... convergiam, é claro, para um belo feriado nas águas tranquilas do lago de Três Marias e logo imaginei como ficaria lotado e caótico o camping onde eu dormira! Todo esse movimento perdurou até por volta das onze da manhã, quando ia diminuindo e o calor aumentando... a estrada prosseguia na extensa e amigável planície onde eu cobria rápido as distâncias com a ótima média de 22km/h; não durou muito: logo reapareceram os morros, cartões de visitas de Minas Gerais! Nesta etapa da viagem, a vegetação começou e concretizou sua gradual transição do cerrado para as matas tropicais e, para conforto dos olhos, pouco a pouco aquela secura horrenda e tortuosa foi ficando para trás... ainda castigados de estiagem, os campos ao menos iam começando a exibir verdumes não só pelas mãos do homem mas também pelas graças da própria natureza! Sob as pontes, os riachos e ribeirões voltaram a apresentar água, ainda que pouca, todos correndo em direção ao São Francisco, então distante mais de 50km à direita. Parei para almoçar em um restaurante com comida mineira feita em fogão a lenha e travessas de barro e me fartei! À tarde o calor foi tão forte quanto no dia anterior e eu ia me banhando no trajeto com a água das caramanholas. O movimento em ambos os sentidos ia ficando cada vez mais constante e volumoso, sinal claro de que já me aproximava da zona de influência da capital mineira, com cada vez mais caminhões e carros de passeio indo e vindo... atenção e cuidados redobrados dali em diante!
A rodovia passou a ser duplicada pouco antes de chegar a Paraopebas, que alcancei por volta das 15:30. Parei em um posto à beira da rodovia para reabastecer as garrafas e, percebendo que ainda aguentava, resolvi esticar mais 48km até Sete Lagoas! Parecia ser cidade mais estruturada do que Paraopebas, além da mística de ter sido cidade natal do saudoso trapalhão Zacarias, meu preferido na infância... segui viagem e, com certo arrependimento, percebi que já desafiava os limites do meu corpo! Havia pedalado 88Km no dia anterior e, com esta pedalada somando 127km, estaria com mais de 200Km pedalados em dias seguidos! Temi pelo joelho, que começou a reclamar faltando ainda 30km para Sete Lagoas... reduzi o ritmo para poupa-lo e, como consequência, a noite foi chegando! No entroncamento de entrada de Sete Lagoas, parei para olhar para a cidade, deslocada uns 3km da rodovia, suas luzes se ascendendo para a noite; era menor do que parecia no mapa! Sem disposição para procurar camping ou host do couchsurfing e sabendo que havia outro posto da rodovia alguns quilômetros à frente, prossegui para mais um pernoite à beira da estrada! Estava determinado a viver uma aventura integral, sem confortos de hotel! O posto surgiu logo após a praça de pedágio nº 8 "Capim Branco", porém, do outro lado da rodovia que, ali, passou a ter os sentidos separados por uma mureta de concreto. Passando do posto, continuei na estrada procurando por um retorno por um, dois, três quilômetros e nada! Simplesmente não havia retorno e acesso àquele posto para quem ia no sentido BH! Atravessei para o canteiro central simplesmente para constatar, com desânimo, que não conseguiria içar a bike tão pesada por cima da mureta! Voltei pelo acostamento na contramão, todas as luzes da bike acessas, até a praça de pedágio, onde a mureta começava, para descer na contramão do sentido Brasília rumo ao posto! Lá chegando fui logo percebido por um dos socorristas do posto que ofereceu-me café quentinho e insistiu para que eu ficasse com um pacotes de biscoitos Maria. Disse-me que tivesse um pouco mais de atenção à bike naquela noite pois, devido à proximidade com Belo Horizonte, aquele posto já havia sido visitado por meliantes. Sem pensar duas vezes, decidi que a "namoradinha" passaria a noite dentro da barraca! Dei logo cabo de todas as providências noturnas, jantando novamente lanchinhos (bolachas, frutas passas, suco, etc) e suprindo proteínas com BCAA e Whey. A noite ficou fresca com um vento moderado e constante e, no meio da madrugada, ficou fria pela primeira vez na viagem! Dormi relativamente bem apesar da dureza do chão, do barulho incessante da rodovia e do alerta do socorrista!

O dia 13/10 amanheceu orvalhado e com nuvens baixas esfarrapadas que o vento fazia ligeiras. À luz da manhã vi o que a noite escondia: o posto e a rodovia ficavam acima da dorsal de uma cadeia de morros; do lado de lá da rodovia despencava um vale verdejante com laguinhos e riachos cortando chácaras lá embaixo nas quais pastava gado vistoso. A estrada descia curvando à esquerda espremendo-se entre morros rochosos e, à frente, difusa em meio às neblinas longíquas da manhã, uma massa urbana espraiava-se até as silhuetas pequeninas e distantes de edifícios.

Belo Horizonte estava a apenas 45km!

Lugarzinho aprazível que surgiu entre Paraopebas e Sete Lagoas

Pôr do Sol próximo a Sete Lagoas


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