quarta-feira, 4 de outubro de 2017

1ª PARADA: CRISTALINA-GO



CRISTALINA - QUA,04/10/17

132,7km rodados
Strava: 
https://www.strava.com/activities/1215648211
Progresso da viagem: 17,7% (130Km)

 Só na manhã da viagem percebi que um pneu estava furado e tive de conserta-lo. Isso atrasou-me a partida e, após despedir-me da minha mãe que entregou-me amuletos e bênçãos, Sellena e eu descemos a bike e os alforges; montei tudo na calçada, sob olhares curiosos de transeundes. Caramanholas cheias de sucos e uma pet de dois litros de água no alforge, saí de Taguatinga às 10:00  pelo pistão sul, seguindo pela EPCT, passando pelo Recanto das Emas e entroncamento do Gama, alcançando a Saída Sul cerca de hora e meia depois. Seriam 132km até Cristalina-GO sob céu nublado com ocasionais garoas, o que promoveu conforto para a pedalada. A bike carregada pesava 42kg que se fizeram sentir bastante nos primeiros 30km de viagem, mais no tocante à estabilidade (guidão oscilava bastante devido ao balanço dos alforges) do que no peso. Esse se faria sentir mais tarde!
A divisa do Distrito Federal com Goiás na saída da BR 040 (Saída Sul) é uma descida com desnível de mais de 100m na altimetria passando por Vaparaíso, cidade goiana caótica e pouco amigável, onde parei em um Subway para um "almoço" rápido. Dois meninos tentavam ganhar alguns trocados no calibrador do posto de combustíveis e, depois de confirmar com o atendente da loja de conveniências que eles não eram vistos a consumir drogas, comprei-lhes o "serviço de calibragem" da bike por pouco mais de dois reais. Parti rumo a Luziânia por volta das 13:00 e a estrada ia ficando menos movimentada com veículos cada vez mais resumidos a caminhões. Aqui já ia sendo desconstruído um dos maiores pré-conceitos: o de que os caminhões seriam o maior risco da viagem! Em verdade, todos os caminhoneiros vinham me abrindo largas margens laterais de segurança, reduzindo velocidade ao ultrapassar-me ao passo que vários eram os carros de passeio que não mostravam a mesma atenção! De Valparaíso a Luziânia desci mais 200 metros na altimetria e esta cidade veio e se foi sem impactar na estrada que, dali para a frente, passou a mostrar as primeiras subidas. Cerca de 40km antes de Cristalina a bateria do celular esgotou-se e o Strava deixaria de registrar este trecho. Por volta das 16:30 cheguei ao povoado de São Bartolomeu e parei para um descanso de meia hora. Faltavam ainda 35Km para entrar em Cristalina dos quais eu sabia que os 20km finais seriam de subida contínua. Senti algum pânico imaginando que a noite chegaria antes da cidade! O entardecer pôs bela variedade de tons e jogos de luzes e sombras nos vales e serras rasas e o cerrado, mesmo seco, ficou bonito. A longa subida para Cristalina começou com o som incessante de algum inseto que lembra o barulho de serrarias cortando metais, além dos cantos variados de aves que já iam se recolhendo; surgiu um cheiro gostoso de mato e, à parte o movimento da estrada que ia rareando com a chegada da noite, o mundo silenciava devagar trazendo uma solidão totalmente diferente, não incômoda mas reflexiva!
Meu quarto no alojamento da Fatec
em Cristalina-GO
Incômoda foi a chegada da noite com os faróis altos de carros e caminhões em sentido contrário quase cegando-me! Os refletivos nos alforges pareciam ter surtido ótimo efeito pois todos os veículos vindos de trás abriam-me a devida distância e não houve susto. A bateria do celular esgotou-se! O outro grande medo, de abordagem por bandidos na escuridão, empurrava-me num supra-fôlego que cessou num posto de polícia rodoviária. Ali estavam baseados três policiais de olho mais nos computadores do que na rodovia à frente mas fui atendido com atenção! Pedi para dar carga no celular e sentei-me na calçada do posto para comer algo, assistido por um cão desconfiado. Cansado, considerei pedir para armar barraca ali mesmo, num espaço atrás do posto mas como já via por cima da última serra a claridade da cidade, decidi prosseguir. Entrei em Cristalina por volta das 20:30, rodando à cata de algum camping ou hostel que não estivesse mapeado (não encontrei nenhum na web) e nada encontrei! Tomei por opções de pedido de pernoite uma igreja em fim de culto e uma academia onde, talvez, pudesse contar com acolhimento por alguém, apostando que o status de ciclo-viajante me tornasse um interessante hóspede inesperado. Procurando internet para pesquisar acomodações (o 3G me deixou na mão em Cristalina), tive indicação de descer até uma faculdade, a Fatec. Lá, fazendo conhecer minha empreitada e meu estado de desabrigado naquele momento, fui acolhido pelo próprio dono, Pedro, que ainda me convidou a participar de sua comemoração de aniversário em um restaurante com dois amigos professores (Flávio e Denis, que gentilmente se dispôs a me receber na volta, se passasse por Catalão-GO). Ganhei um quarto no alojamento de professores da faculdade e os primeiros amigos da viagem!  O banho quente revelou-se grande colaborador pós-pedalada, aliviando-me muito a tensão e as ainda leves dores musculares. Entendi o porquê de um dos aplicativos para viajantes ser chamado "Warmshowers"!
Infelizmente não fiz uma foto para registrar essa passagem por Cristalina mas gostaria de registrar minha profunda gratidão pela  calorosa acolhida dos amigos Pedro, Denis e Flávio! Obrigado, pessoal! Foi dez!

A Quinta-Feira amanheceu com céu limpíssimo e sol firme. Levantei um pouco tarde, por volta das 8:00 e os professores Flávio e Régis já haviam saído para um evento da faculdade, deixando comigo a chave do alojamento. Rearrumei tudo, tomei uma boa ducha e, montada a bike, voltei à faculdade, no mesmo quarteirão, para devolver a chave! Parti de Cristalina por volta das 9:00 rumo à primeira divisa de estados, rumo a Paracatu, em Minas Gerais!


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