sábado, 28 de outubro de 2017

3ª PARADA: PRAINHA DE MAMBUCABA/SP

NOITE CAINDO... CADÊ PARATY? - SÁB, 28/10/17


70,2 Km rodados
Strava: https://www.strava.com/activities/1252668336

Progresso da viagem:63% (327Km)



Fiquei no Hostel até por volta de 12:30 pesquisando a continuação da viagem e as atrações no caminho que eu talvez viesse a curtir! Deixei Angra às 13:00 e, cerca de meia hora depois, parei em um restaurante para almoçar, no subúrbio de onde eu viera no dia anterior, às margens da BR-101. Rápida passagem em uma farmácia e pronto: peguei a estrada rumo à próxima cidade: Paraty! 

O dia ia ensolarado com poucas nuvens filtrando o Sol, fazendo abafada a tarde de sábado! A rodovia, sempre movimentada, é também conhecida como estrada Rio-Santos e promoveu durante o dia inteiro uma viagem até certo ponto tranquila, sempre com acostamento que, na maior parte do trajeto, é razoavelmente largo. Aqui e ali, por falta de manutenção, a vegetação marginal cresce invadindo parte do asfalto e estreitando o acostamento, também bastante entulhado de galhos e restos de vegetação derrubados pelas chuvas! A altimetria alterna bons trechos planos com subidas e descidas íngremes, repentinas, de morros costeiros ao mar! A água tranquila na Baía de Angra dos Reis faz pouco barulho de rebentação nas rochas e o que chama atenção mesmo durante todo o trajeto é a exuberância da mata atlântica! Como é frondosa e densa a vegetação ali! De vez em quando surgem cascatinhas d´água bem às margens da rodovia, descidas do alto dos morros! Outras tantas vezes são as minas de água mineral saída do ventre da rocha que fazem parar os motoristas às margens da rodovia, que possui  nesse trecho poucos pontos de apoio (até mesmo postos de combustíveis). O tempo todo é intenso o cheiro da mata bastante úmida, às vezes pontuada por ocasionais garoas trazidas por algumas nuvens oceânicas em rápida passagem que, desafiando a serra, sobem para chover lá em cima, em Vassouras, Piraí e Volta Redonda. 

Em dado momento, passou por mim um carro escuro buzinando e pensei que talvez quisesse sinalizar-me algo! Ainda pedalando, fiz rápida revista visual na bike para ver se nada havia caído no caminho ou se alguma peça estaria a soltar-se; com tudo normal, continuei e logo encontrei o carro parado à frente, o motorista desembarcara com o celular na mão: 

- 'Cara, mas que bike interessante essa sua! Posso tirar uma foto desses bagageiros? Meu irmão vai viajar de bike e tá precisando de uma ideia dessas!' 

Fotografou a "namoradinha" com seus alforges enquanto eu tomava um gole d´água e desejou-me boa viagem! Embora o visual em toda a costa da baía fosse exuberante, as praias eram poucas e pequenas, a maioria bastante ocultada das vistas panorâmicas pela vegetação volumosa e seus acessos igualmente escondidos na estrada! De fato, passei direto pelos acessos de umas três que me foram recomendadas sem ter visto qualquer indicação! 
Usina Termonuclear de Angra dos Reis
Passei pelo povoado do Frade e subi um morro íngreme que me levou mais de 100 metros acima do nível do mar. Então a estrada desceu um pouco e surgiu um pontilhão a pique onde a estrada vence uma grota entre dois morros. Um chiado indistinto começava a se fazer ouvir mais a frente, lembrando uma panela de pressão ao despressurizar-se. O ruído ia crescendo e, meio que repentinamente, surgiram as instalações da Usina Termonuclear de Angra 1 e 2. Parei na entrada do lugar, no meio de um declive da estrada para fazer uma foto. O forte chiado era vapor saindo forte por um escape no teto de uma das cúpulas da central nuclear. As águas da baía em suas margens eram de um profundo verde-esmeralda! Alguns quilômetros adiante surgiu um bairro inteiro construído exclusivamente para os funcionários da Usina, com boas casas construídas em padrão e com as ruas internas limpas e organizadas, tudo cercado como um condomínio fechado e margeando uma extensa praia de areias claras e águas tranquilas! A distância de 96Km entre Angra e Paraty revelou-se demasiado longa para o tempo que eu dispunha de luz diurna, principalmente devido à altimetria acidentada que reduziu, em inúmeros momentos, minha velocidade! Assim, por volta das 17:00 eu havia chegado apenas à cidade de Mambucaba, a meio caminho de Paraty e que eu selecionara como alternativa de pernoite. Cheguei e logo de cara achei o lugar pouco ou nada amigável, assemelhando-se mais a um assentamento urbano irregular, meio favelado em alguns pontos, e transpirando uma atmosfera meio far-west. Decidido a não ficar ali, parei em um auto-posto para pesquisar alternativas próximas e encontrei mapeado um camping cerca de 4 quilômetros para trás, em um pequeno bairro chamado Praia das Goiabas. Lá chegando, desci um bocado da estrada até quase o nível do mar e adentrei o povoado de ruas de paralelepípedos muito irregulares; encontrei o camping no fim de uma rua sem saída apenas para constatar que estava fechado e sem ninguém que viesse atender e abrir o portão trancado! Ademais, o camping sequer pareceu agradável, margeando um riacho muito poluído que fazia todo o lugar cheirar mal! Talvez tivesse fechado por isso mesmo! Voltei e subi tudo de novo até a estrada, cerca de 60 metros acima do mar e resolvi prosseguir tentando alcançar algum lugar melhor adiante! Parei novamente em Mambucaba para pesquisar outros campings por perto em vão. 
O sol já ia se pondo e comecei a ter certo pânico de estar na estrada, distante de qualquer cidade mais razoavelmente estruturada. Encontrei no mapa um hostel em uma praia ali perto, cerca de 3 quilômetros adiante e rumei para lá! Saí da BR-101 entrando em um povoado praieiro de ruas de chão batido de traçado irregular, de casas variadas, muitas em construção, parecendo ser um lugar de ocupação meio recente. O barro vermelho logo virou areia e cheguei ao hostel à beira da praia, encontrando-o totalmente fechado! Estava fora de operação, enlutecido pelo falecimento de alguém... mas que falta de sorte! Meio desanimado, caminhei pela praia empurrando a bike com dificuldade, afundando pesada na areia fofa; descobri por um grupo de banhistas que mais adiante na praia eu poderia encontrar pousadas. Cheguei a uma lanchonete onde um garoto me disse para procurar ali perto pelo Tigrão, dono de um bar! 
Tigrão mora nessa pequena comunidade caiçara chamada Prainha de Mambucaba e, pelo que entendi, ali possui uma palhoça-boteco mas está construindo uma estrutura maior para substituir a original, com amplo telhado sob o qual deverá dispor várias mesas, o serviço do bar e algumas sinucas! Recebeu-me bem, sentado em companhia de um amigo, os dois petiscando algum churrasco e muita cerveja... ali perto, uma grande lata sobre fogueira cozinhava um mocotó! Sem pestanejar, permitiu-me armar barraca sob o telhado de seu bar em construção, onde dispus de uma ducha de água fria trazida de uma cachoeira, os poros da ducha meio entupidos por pedacinhos de vegetação. Dois boxes de madeirites bastante improvisados abrigavam dois vasos sanitários, latrinas temporárias da obra! Só não tive uma tomada à minha disposição. Com total ausência de sinal de celular, desliguei-o afim de guardar carga para o dia seguinte! Armei a barraca e pus tudo para dentro, prendi a bike em uma das grossas vigas de tronco da obra e saí para conhecer a praia! 
A noite estava fresca com a lua crescente desafiando as nuvens ralas, espalhando fraca luminosidade sobre o mar. As ondas, nem grandes e nem pequenas, arrebentavam na areia com pouca energia e, depois de dez anos, meus pés reencontraram o sal do mar! Senti um misto de paz e melancolia ali, invadido por sentimentos diversos relacionados a pessoas que desejei muito que estivessem comigo nesse reencontro com o mar! Na ponta da praia, um pequeno grupo de três homens e um garoto rasgavam a escuridão quase total com uma potente lanterna, caminhando rumo aos rochedos após o fim da faixa de areia... pareciam ter ido pescar! Voltei ao Quiosque do Tigrão e já não estavam lá! Me preparei para dormir. A tranquilidade e serenidade sugeridos por aquela pequena e bela praia foram feridas pelo inconveniente som alto de algum boteco próximo mas, ainda assim, senti-me bem e o sono chegou sem que eu percebesse! De madrugada caiu uma fraca chuva que libertou o gostoso perfume de mato e terra molhados!
Tigrão, anfitrião inesperado na Prainha de Mambucaba
O dia seguinte amanheceu encoberto e fresco. Tigrão apareceu acompanhado de outro amigo quando eu já terminava de guardar tudo nos alforges e os montava na bike! Infelizmente não tomei nota de seu nome verdadeiro mas fiz esta única foto para relembrá-lo aqui como mais um desses colaboradores que me surgiram, ajudando quando eu mais precisei!

Obrigado, Tigrão!



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