segunda-feira, 16 de outubro de 2017

DE CARRO PELO INTERIOR DE MINAS

DE CARRO PELO INTERIOR DE MINAS - 14 E 15/10/17

Saímos cedo em manhã de Sábado para uma viagem de carro rumo a Viçosa, onde haveria o aniversário do sobrinho da Ana. Primeiro passaríamos em Ouro Preto e, deixando Belo Horizonte por uma saída sudeste, logo a estrada converteu-se em uma tortuosa sequência de curvas fechadas contornando sopés de morros e montanhas de rochas ou cobertas de gramíneas muito verdes. Aqui eu vi o relevo mais acidentado de toda a viagem, como se a natureza tivesse, com mãos imensuravelmente gigantes, cavado e empilhado em um caos organizado, toda a terra que o homem não pode mover. O dia ia parcialmente encoberto de névoa seca, sem perspectiva de chuvas e moderadamente quente. Passamos pelas cidades de Nova Lima e Itabirito.
Ouro Preto surgiu quase que repentinamente, tendo a estrada convertido-se em uma rua da cidade após uma ou duas curvas! Sem muito andar, o asfalto logo sumiu dando lugar aos ainda preservados calçamentos tricentenários de pedras grandes e irregulares, cortadas e assentadas por escravos, aqui e ali mostrando marcas tanto de antigas carroças de rodas finas de madeira quanto dos carros atuais. Esse tipo de pavimento torna as andanças por essas cidades seculares mineiras bastante peculiar, com um trepidar a sacudir todo o veículo, emitindo um barulho constante. As estreitas ruas seguem a topografia quase totalmente original em todos os morros por onde espalhou-se a cidade desde tempos imemoriais e, como resultado, vimos as maiores e mais íngremes inclinações até então. Aninha solta um "-Daian, não sei descer isso aqui não"; o carro quase patina ladeira abaixo nas pedras meio úmidas. Em ambos os lados, sucedem-se misturas de casarios coloniais com outras de épocas posteriores ou atuais. Aqui e ali, por toda a cidade, muros, alpendres, telhados e cantos de calçadas mostram-se manchados e encobertos de musgo e limo, denunciando sua antiguidade.


Paramos em uma república de estudantes (há uma profusão delas em Ouro Preto) para pegarmos uma sobrinha da Ana e duas amigas dela, todas vindo conosco para o aniversário em Viçosa! Após competirmos com micro-ônibus regulares nas ruelas apertadas, seguimos para o centro histórico da cidade, movimentadíssimo, sem lugar para estacionar! Os casarios deslumbrantes de órgãos públicos e oligarquias de tempos idos ladeiam as ruas e o paço central, encabeçado pela igreja matriz. Apressados pelo horário, não entramos para conhecer os edifícios históricos e fomos direto à chocolateria-cafeteria Villa Rica, onde o interior, decorado num misto entre colonial e pop-retrô, exibe em belo ecletismo lustres de ferro trabalhado com imagens e objetos dos anos 20 aos 50. Estava quase lotada não sem motivo pois as bebidas e lanchinhos do lugar realmente eram ótimos! As amenidades daquela manhã fariam passar fácil um dia inteiro em Ouro Preto!








Sem mais tardanças, saímos para retomar nossa viagem vendo, por toda a cidade, as pequenas e antiquíssimas igrejas coloniais e do tempo do império, relativamente pequenas e, ainda assim, imponentes em suas características verticalidades. Deixamos Ouro Preto por volta das 11:30 escalando um dos inúmeros morros, o carrinho econômico guerreiro da Ana sofrendo mas sem falhar! Prometi a mim mesmo que voltaria para conhecer a fundo aquele lugarejo inundado de memória!

O caminho para Viçosa mostrou algumas das mais belas paisagens que vi em Minas Gerais, tornando-se a topografia ainda mais acidentada e, por isso mesmo, mais impressionante. Sucediam-se morros e vales cada vez mais altos e profundos onde, em dada altura, surgiu a ferrovia cortando desafiadoramente aqueles acidentes geográficos, ora margeando a pique as encostas, ora em enormes pontilhões, solitários gigantes da engenharia humana imponentes, porém, pequenos ante à engenharia da natureza. Vimos o pontilhão muito acima dele e, após um sem número de curvas fechadas em constante descida, vimo-nos no fundo de um vale onde finalmente passamos por baixo daquele mesmo pontilhão ferroviário. Só faltou mesmo um trem passar naquele instante para coroar o momento! Aninha ria da minha cara, olhando pela janela do carro, embasbacado, para os altos morros como quem olha da calçada para o topo de um arranha-céus. Em certa altura, um rio de muitas pedras que corre o fundo do vale passou a margear a estrada, infelizmente poluído pelas cidadezinhas da região. As propriedades rurais renderiam belas pinturas paisagísticas com açudes, cercados, pomares e casinhas pitorescas, visões entrecortadas pelo arvoredo robusto e constante à beira da estrada, agradavelmente ensombreada.
Chegamos a Viçosa por volta das 17:00 com o Sol já querendo despedir-se por trás dos muitos morros. A festa já havia começado e fomos recebidos pela irmã mais velha da Anna, a Tetê, os filhos dela, Felipe e Rodrigo (o aniversariante), o marido e o primo dele cujos nomes não lembro agora! rs

Anna toda extrovertida, visivelmente satisfeita por estar ali (pois é "muito família") era só riso e papo solto com a família reencontrada... num papinho reto e risonho com o sobrinho Felipe, solta logo nossas condições, minha e dela, de homossexuais... pronto! Estava feito o "Cristo da festa", hahaha! Afinal, na sub-cultura popular a homossexualidade masculina é muito mais caricaturizada do que a feminina, que é até enxergada como fetiche! A partir dali era um tal de me pedir pra dançar, fazer coreografia, "soltar a franga" e eu lá, sorrindo amarelo, o "viado menos viado" de sempre! Admito que nunca soube dançar e nunca me interessei, menos ainda coreografias... mal sei fazer uma boa bicha, todo duro e desengonçado! Mudaram a trilha sonora para uma seleção de músicas iconicamente gays com as pausas para fôlego à mesa regadas a uma cerveja infinita (o garçom não deixava os copos chegarem à metade)! O aniversariante Rodrigo já ia bêbado há horas e noite adentro, restávamos apenas a família da Anna, eu e as amigas da sobrinha que foram conosco! Fomos todos acomodados na enorme casa da Tetê que, toda solícita e hospitaleira, certificava-se de termos até mesmo escovas de dentes!

Na manhã seguinte tomamos todos o café à mesa e o assunto era um piriri generalizado que, suspeitou-se, fora fruto da abundante cerveja!

Felipe: - O meu saiu em spray!
Anna: - Eu precisei lavar o vaso!
Eu não sabia se comia ou se ria!

Sabendo do meu estudo de música e violino, Tetê apareceu com uma sanfona de brinquedo que não era tããão de brinquedo assim, presente que Anna lhe dera outrora. Entendendo rapidamente o funcionamento, ensinei-a a praticar uma escala e então fomos todos preparar nossas partidas. Era Domingo e ninguém ali além da Tetê e o marido morava mais em Viçosa! Por volta das 10:00 nos despedíamos dela de quem gostei muito, bem como dos filhos e filha, e que me deixou as portas abertas e convite feito para voltar!

Um dia volto aí pra ensinar mais sanfona e, quiçá, dançar uma coreografia da Madonna, hahaha!
Muito Obrigado pelo carinho e hospitalidade, Tetê!



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