sexta-feira, 13 de outubro de 2017

7ª PARADA - BELO HORIZONTE

ENFIM, "BELZONTE"! - 13/10/17

55,9Km rodados
Strava: https://www.strava.com/activities/1228386857

Progresso da viagem: 100% (734Km)



Com dois dias seguidos sem entrar em cidades, as provisões haviam se esgotado! Parti às 8:00 em jejum para descer a estrada em busca de um café da manhã em Ribeirão das Neves, já na região metropolitana da grande BH! A manhã começou fresca com ocasionais encobrimentos do Sol por nuvens esparsas e a estrada, apesar de movimentada, estava boa para a viagem por ser duplicada. Ali os morros foram bastante cortados para que a estrada passe sem desníveis, em uma descida uniforme para a capital mineira. Após cerca de hora e meia de pedalada fui atraído pela placa de uma pastelaria dentro de um bairro às margens da rodovia. Ali parei para um café da manhã calórico: pastéis de frango e palmito com caldo de cana! Foi escolha sábia, apesar da gordura dos pastéis; em cerca de meia hora sobreveio muita energia e vigor nos músculos e ganhei a estrada, predominantemente decídua, apressado por chegar!
De bairros distantes e desconectados, a mancha urbana tornou-se compacta às margens da rodovia, substituindo morros belamente cobertos de vegetação por morros cobertos da precariedade e pobreza das nossas cidades! Então começaram a surgir grandes estruturas comerciais e industriais que foram ficando cada vez mais frequentes e eu ia fazendo mentalmente um contraponto daquela paisagem com tudo o que tinha visto antes! De repente, todos os ermos que eu atravessara pareciam distantes demais, quase impossíveis de terem sido vistos há apenas alguns dias e no mesmo estado brasileiro! Ali o verde estava realmente verde e os riachos, além de cheios, estavam poluídos... percebi que sentia saudade daquela mansidão da estrada ida, constatando com algum pesar que estou um tanto farto do caos das grandes urbes! Ainda assim, estava repleto de alegria: estava a poucos quilômetros de realizar um feito que duvidei que fosse capaz. Diante de mim abria-se a terceira maior cidade do Brasil com todas as possibilidades, inclusive em suas qualidades! Reencontraria amigos, talvez fizesse outros, descansaria o corpo... e antes que terminasse todas essas reflexões, Belo Horizonte havia chegado a mim e não eu a ela! Num viaduto bastante alto que penei um pouco para subir, convidou-me a entrar pela avenida das Américas e pronto: a estrada tornava-se cidade! Despedi-me da BR 040 passando-lhe por cima, olhando sua continuação para o Sul, rumo ao Rio de Janeiro! Esta serpente cinzenta, onde tanta vida e morte andam juntas, tinha sido minha rota e minha casa por nove dias! Agradeci mentalmente por estar em boas condições e por ter-me sido relativamente segura nos 715km que se passaram! Olhei para a frente e vi que a cidade, com seu coração cravejado de arranha-céus, estendia de lá um braço urbano por onde eu adentrava-lhe!
Das Américas caí na Severino Balestros margeada por um parque recém-implantando com um Shopping. Mais à frente, a mesma avenida tornou-se Clóvis Salgado, sempre com os dois sentidos divididos por um canal obviamente poluído e fétido... ok! Não espero encontrar cidades primorosamente limpas nem mesmo na Europa (até encontrar a primeira)! Trânsito razoável, olhares curiosos para a bike carregada ao chegar à Otacílio Negrão onde canais com muito esgoto confluem para a Lagoa da Pampulha. Margeando um parque construído em cima de um aterro, a lagoa logo revelou-se num cartão postal descuidado à brasileira; a água totalmente encimada de uma camada de alga verde exalando um odor misto de esgoto e produto químico (mais tarde descobri que a prefeitura andou tentando tratar a poluição com químicos), algum lixo boiando e muito na grama das margens. A ciclovia não é lá muito boa com o piso e traçado bem irregulares mas ao menos existe; em alguns pontos, por falta de espaço, ela desce ao asfalto e torna-se ciclofaixa, separada dos carros por blocos de concreto e "tartarugas" refletivas. O conjunto do bairro é bonito, com belas casas de classe média-alta e muito bem arborizado! Comecei o contorno da lagoa pelo lado errado, pedalando 6km sem me orientar pelo mapa, apenas curtindo o paisagismo ainda bonito. Eu estava à procura do objeto que marcaria visualmente minha chegada a BH e ela finalmente surgiu depois de muitas curvas: a igrejinha da Pampulha é um bibelô de Niemeyer pré-Brasília, lindamente adornada na face de trás com painel de Cândido Portinari! Aqui marquei o quilômetro 734 da viagem, 835 no total absoluto (contando andanças pelas cidades) na praça cheia de turistas onde a "namoradinha", posando para estas fotos, também posou para mais duas de gente atraída pelos vistosos bagageiros, solução que disseram pretender copiar! Inundado de um sentimento de meta alcançada e superação, reencontrei-me com a auto-estima de quem venceu medos, inseguranças e redescobriu-se valoroso! De fato, somente eu e poucas pessoas sabemos o quanto eu precisava reencontrar esses sentimentos!

Aqui recebeu-me minha anfitriã Ana Elisa, amiga e minha ex-aluna de violino em Brasília e que mudou-se para BH um mês antes! E depois de nove dias de muito trabalho conjunto, "namoradinha" parcialmente desmontada finalmente entrou no carro para, descansando, fazer os últimos quilômetros até nossa morada temporária!


















Ana estava morando temporariamente com Carlos, um amigo com quem fez junto a faculdade de Enfermagem, e seu companheiro Régis. A casa ricamente decorada com arte pop-retrô tem nas paredes belas fotos de artistas diversos como Marylin Monroe e Audrey Hepbrun, esculturas de variados estilos juntas a móveis de muito bom gosto, tudo harmonicamente disposto em espaçosa sala, bem iluminada por lustres e janelões. Uma cadelinha sapeca completa a vida do lugar que, atrás, tem ainda uma bela churrasqueira com direito a forno e fogão a lenha, piscina e um coqueiro-anão carregado! Na cozinha, com balcão à americana e bancos altos, passamos algum tempo entre cafezinhos (Aninha ama um café), relembrando nossas historias e causos, botando em dia algumas amenidades dos nossos dois anos de gostosa amizade! Acima de nós eram constantes os rasantes de aeronaves em pouso, pois a casa é quase perfeitamente alinhada com a pista do Aeroporto da Pampulha, a apenas quilômetro e meio dali! Aninha precisou sair para fazer seu plantão na rede Sarah, lá no centro de BH e mais tarde conheci meus anfitriões Carlos e Régis, chegados de uma viagem. Pouco contato pudemos ter pois, cansados, logo se recolheram! Aninha deixou-me preparado seu próprio quarto que, com o cair da noite, recebeu pela ampla janela uma gostosa brisa. Com uma cama de casal e cobertas, após quatro noites seguidas em barraca sobre chão duro com saco de dormir, aquele quarto era um luxo! Aninha chegaria cedo pela manhã e emendaria a nossa viagem logo após seu plantão!

Amanhã tem Ouro Preto e Viçosa!









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