segunda-feira, 9 de outubro de 2017

4ª PARADA - TRÊS MARIAS

TRÊS MARIAS - 09/10/17

132,6Km rodados
Strava: 
https://www.strava.com/activities/1223287048

Progresso da viagem: 63,3% (465Km)
 

João Pinheiro ficou para trás após uma cansativa subida de colina e logo, abriam-se para mim as enormes planícies dominadas por plantações que permeariam a maior parte do trajeto! Com efeito, a estrada para Três Marias prometia uma altimetria tranquila até cerca de 25km antes da cidade, quando eu teria de escalar uma sequência de serras que antecedem o vale do velho chico!
Aqui a paisagem mudou bruscamente para a onipresença da monocultura de eucalipto que, depois, vim a saber que seria um dos grandes vilões do secamento dos rios da região! A estrada ficou confortável e segura em mais um trecho duplicado com asfalto novo bem liso onde cobri rápido boa distância. Apesar de nada corretas ecologicamente, as plantações de eucaliptos conferiram alento visual na viagem, aqui e ali entrecortados por restos ressequidos de cerrado que não deixavam esquecer a verdadeira condição da região.
Por volta de meio-dia e meia parei no restaurante do posto Oasis para um almoço caprichado! O restaurante, embora grande e com uma lojinha familiar de conveniências, só era ocupado por outros dois viajantes, caminhoneiros, além de mim. Voltei à estrada às 14:00 e hora e meia depois alcancei Luizlândia do Oeste. Trata-se de um povoado no cruzamento da BR 365 com a Via 040 popularmente chamado de "JK" e, nos planos originais da viagem, eu pretendia pernoitar nesse povoado. Todavia, fui advertido, desde Cristalina, de que o lugar é um verdadeiro faroeste onde sequer a polícia permanece muito tempo e onde os assaltos a viajantes são constantes! Isso me obrigava a seguir direto para Três Marias no mesmo dia, somando exaustivos 135km de pedalada! Parei rapidamente no lugarejo para abastecer-me de lanches práticos e parti. Veio outro povoado ainda menor chamado  Canoeiros que parece resumir-se a uma linha de casas à beira da estrada, sem nada para trás. Após mergulhar para a baixada do rio Abaeté, começou a longa subida da serra que antecedia o vale do rio São Francisco. Ali a estrada serpenteou em curvas sinuosas nas encostas dos morros enquanto o Sol, se pondo, mergulhava a paisagem ocre em luz dourada. Os caminhões subiam lentos e sôfregos e foi com o céu escurecendo que alcancei a praça de pedágio onde poderia, emergencialmente, armar acampamento! Constatei que ali a estrutura não ajudava muito e decidi seguir mais 17km afim de alcançar o próximo posto de apoio ao usuário da Via 040. Pela segunda vez na viagem a noite fechou-se à minha volta na estrada e, para piorar, logo senti que a bike ficava cada vez mais pesada. Eu tinha um pneu furado que ia vazando devagar; duas vezes parei no acostamento para completar a pressão do pneu, os carros passando velozes, cortando a escuridão com faróis altos cegantes. Após quase uma hora de pedalada, a serra desceu em pronunciado declive e em grandes curvas. Cheguei ao posto de apoio com o pneu quase vazio e dois quilômetros à frente brilhavam as luzes de Três Marias!
Acampado em um posto da Via 040
Um pedacinho de arame de pneu de caminhão, mais fino que um alfinete, fora o causador do esvaziamento do pneu! Com efeito, os acostamentos em toda a BR 040 tinham muitos pedaços de recapagens de pneus, estilhaçados como se estivem realmente explodido, o que me fez, dali em diante, temer um pouco mais estar ladeado pelas jamantas! Desmontando a roda para remendar a câmara de ar, logo chamei a atenção de dois funcionários da rodovia baseados naquele posto, entre eles o socorrista Hévio. Emendamos boa conversa sobre minha aventura e as que ele também empreendera e contei-lhe que, de Belo Horizonte, seguiria pelo trem da Vale para o litoral do Espírito Santo. Me dei conta de que a ideia nascera pouco antes daquele momento, expontaneamente, no decorrer do dia de viagem! Perguntei-lhes se poderia armar a barraca ali no pátio do posto, ao que consentiram! Também conheci o Jaimes que logo me fez convite para voltar a Três Marias afim de comer uma peixada em uma chácara! Com a barraca armada pela primeira vez, tirei a roda dianteira da namoradinha e a pus para dentro, seguida dos alforges. Havia espaço bastante! Também cozinhei pela primeira vez nos fogareiros feitos à mão: miojo com atum e milho enlatados e, de sobremesa, alguns morangos! Mais tarde o Hévio voltou e entregou-me um bilhete com um telefone e endereço em Guarapari-ES, onde um amigo certamente me receberia caso eu lá chegasse!
Foi minha primeira noite acampando e logo senti falta do colchão inflável que eu decidira não trazer devido ao peso e volume! Encarei a dureza do chão de cimento apenas com o isolante, saco de dormir e travesseiro inflável. Sem chuveiros, o banho foi de lenço umedecido e, para minha surpresa, senti-me realmente limpo!
Levantei cedo, por volta das 6:30, despertado por funcionários da rodovia do turno da manhã, preocupados de que o chefe, ao chegar, lhes chamasse atenção por estar eu ali acampado. Sem problemas! Apesar do desconforto, senti-me descansado o bastante para entrar em Três Marias e decidi que permaneceria aquele dia na cidade para descansar! Desfiz acampamento e parti!


ÀS MARGENS DO SÃO FRANCISCO - 10 e 11/10/17

Lago de Três Marias
Terminal Turístico Praia-Mar de Minas
O rio São Francisco surgiu caudaloso num profundo verde-esmeralda, com ótima panorâmica a partir da ponte! Uma subidinha depois e eu entrava na cidade já atraído pelas placas indicativas do caminho para a usina hidroelétrica, que decidi ir conhecer! Entrei pelos meandros de um bairro de residências dos funcionários da usina e cheguei à própria, que estava fechada para visitação (só agendada com antecedência). Decidi seguir explorando um pouco da orla do lago artificial.
A represa mostrou logo de cara ter sentido a severidade das estiagens com extensos barreiros expostos nas margens e a superfície da água pelo menos uns cinco metros abaixo do nível normal. Ainda assim, a massa do lago continuava grande, dando ideia do colosso de natureza e engenharia humana que aquele lago era!
Seguindo em frente, descobri sem querer a existência de um balneário público municipal às margens do lago: trata-se do Terminal Turístico Praia-Mar de Minas onde, para minha total surpresa, existe uma estrutura completa para acampar com banheiros, sanitários, pias e bancadas para cozinhar, lotes para barracas com tomadas e ali perto, uma meia dúzia de quiosques de comes e bebes em uma faixa de areia e, à frente, um pátio cimentado ladeado por conjuntos de duchas, tudo com vista e livre acesso ao lago da represa! Maravilhado com o achado inesperado, almocei ali um ótimo PF com peixe frito empanado e decidi ficar para pernoite! Voltei à cidade para comprar provisões e retornei ao camping, onde mais tarde registrei um belo pôr do Sol refletido no lago! Com os quiosques fechando às 19:00, a noite trouxe calmaria quase total, às vezes levemente quebrada pela passagem de alguns ciclistas e praticantes de cooper na pista de acesso do lugar! A escuridão quase total encheu-se do perfume de alguma planta, do canto de grilos e do brilho ocasional e errante dos vaga-lumes! Na bancada com pias ali perto armei minha cozinha para fazer o jantar: arroz branco, macarrão com sardinhas e molho de tomate acompanhados de suco (em pó, única forma prática) e doce de amendoim para sobremesa!



Devido ao calor diurno, mesmo dentro dos alforges, era complicado manter frutas frescas por bom tempo! No prédio principal do lugar, um vigia pernoitaria em uma guarita. Achei o lugar tão aprazível que considerei passar ali umas três noites mas minha amiga que me receberia em Belo Horizonte apressou-me para chegar logo lá afim de acompanha-la a um aniversário; ademais, chegava o feriado e, com ele, a certeza de que este camping deixaria de ser tranquilo, limpo e seguro! Decidi então partir na manhã seguinte! O sono chegou logo e, mesmo sem o conforto de um colchão, dormi  bem e satisfeito com a descoberta daquele lugar!
Serra entre os rios Abaeté e São Francisco

Pausa para almoço

Lago da usina de Três Marias






Passarinho foi pousar lá no topo


Barraca alone: camping só meu! haha


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