quarta-feira, 25 de outubro de 2017

DE CARRO PARA JUIZ DE FORA

JUIZ DE FORA - DOM, 22/10/17 A TER, 24/10/17


Tendo passado a última noite no AP do Charles, levantei cedo e preparei a partida! Anna chegou por volta das 9:00 e desmontei as rodas da bike para colocar tudo dentro do carro! Partimos rumo a Juiz de Fora pela BR 040 e foi assim, de carro, que conheci essa parte da estrada que fiz de Brasília a BH.



A bem da verdade, eu a teria feito inteira até o Rio de Janeiro, que era o destino inicial quando surgiu em mim a vontade de fazer cicloviagens, cerca de dois anos atrás. O motivo para empreender esta viagem, contudo, deixou de existir, além de serem fortes os motivos para não ir àquela cidade!



O dia estava encoberto e abafado e a estrada bastante movimentada! O fluxo de caminhões entre Rio e Belo Horizonte é muito intenso e pensei comigo mesmo que seria uma barra encarar de bike aquele tráfego pesado ainda que, como já mencionei, os caminhoneiros tenham sido sempre mais respeitosos comigo do que os carros de passeio! A presença constante de estilhaços de recape de pneus nos acostamentos evidenciava que eles desfaziam-se com violência e imagino o risco de isso acontecer justamente quando um desses caminhões passa ao lado de um ciclista! Ainda assim, voltaria a ciclo-viajar dali a três dias, posto que é preciso assumir riscos para viver!

Paramos por volta das 11:00 em uma grande lanchonete à beira da estrada para um café da manhã tardio; embora o lugar nos tenha atraído por ser especializado em pães de queijo, acabamos pedindo misto quente e salgados. Continuando a jornada, a paisagem era tipicamente mineira com geografia bastante acidentada proporcionando belos cenários de morros, vales, rios e lagunas. A mata tropical mineira nesta proção Sul do estado parecia não ter sido afetada por severa ou prolongada estiagem, estando toda verde e abundante e, de vez em quando, fizeram-se sentir os perfumes de flores. Como de costume, em muitos trechos haviam palhoças com produtos da terra e sem muitas novidades, sucederam-se mas cidades de Conselheiro Lafaiete, Carandaí, Barbacena e Santos Dumont.



O céu nublou e veio chuva fraca e intermitente quando chegamos a Juiz de Fora; Saímos da BR 040 e Aninha ia falando animada dos lugares por onde passávamos mesmo antes de entrar na cidade propriamente dita. Ali ela nascera e estávamos a caminho da casa da família, onde ela crescera e onde o pai e uma das irmãs ainda moram. Contou-me que a cidade tem esse nome porque, em tempos idos, na cidade somente haviam juízes vindos de outros lugares. A estrada volteia por entre morros em cujos sopés existem bairros periféricos e humildes e a massa urbana principal da cidade é meio espremida e esticada entre duas dorsais de morros e serras a Leste e Oeste. No meio passam um rio e o tramo ferroviário, em todo o comprimento do vale e ao redor dos quais cresceu a cidade! Logo estávamos nas ruas e avenidas centrais onde, mais do que BH, a semelhança com o Rio de Janeiro é grande!

Chegamos sem qualquer aviso à casa da família da Anna surpreendendo ao portão sua irmã Denise, que nos recebeu! Reencontrei o pai, "seu" Wagner, que eu já conhecera em Brasília quando dava aulas de violino à Anna, e conheci o irmão Guto (Gustavo) e o sobrinho Michel! Chegamos e foram logo nos providenciando comida e, claro, o habitual cafezinho. Então Anna e Michel levaram-me a conhecer alguns lugares da cidade. 

No centro antigo de Juiz de Fora (não tão preservado, não sendo notável como em cidades mineiras históricas) chamam atenção os prédios seculares de indústrias do passado feitos em tijolinhos vermelhos, lindeiros à ferrovia e até com enormes chaminés de tijolinhos "à inglesa"; Fomos pegos por um temporal inesperado e, quando amainou, seguimos para o campus da universidade sobre um morro onde destaca-se um bonito paisagismo; dali trilhamos o caminho para o monumento da cidade. A estrada ficou mais íngreme e, à beira, sucediam-se pequenos altares (na falta de um termo melhor) retratando as estações da via crucis até o momento da crucificação, terminando com a passagem da ressurreição pouco antes de chegar ao monumento.

No cimo do morro mais alto a oeste de Juiz de Fora, chamado Morro do Cristo, existe uma capela em cujo topo há uma estátua de Cristo; não é modernista como a do Rio, sendo esta aqui neoclássica! Há também um mirante do qual pode-se ver quase toda a cidade! Tiramos algumas fotos e Michel e Anna iam me mostrando alguns lugares da cidade lá embaixo; fomos expulsos dali por uma chuva fina. Descemos e, de volta à cidade, visitamos o Parque do Museu Mariano Procópio; infelizmente, o museu em si estava fechado! À noite fomos ao belo Cine-Teatro Central assistir a um musical para apreciadores dos Beatles!


* * *

Seu Wagner adora uma sinuca, seu passatempo predileto! Rotineiramente Guto é o motorista da casa e o leva para jogar com os amigos e diariamente seu Wagner assiste a partidas de sinuca pela TV a cabo! Denise empreende um brechó na parte dianteira da casa e basicamente dedica-se a cuidar da velhice do pai, tarefa compartilhada com Guto. Michel desempenha a curiosa e criativa função de carnavalesco de uma das escolas de samba da cidade; Foi com essa hospitaleira família que fiquei três dias em Juiz de Fora! No dia seguinte à nossa chegada, Anna voltou a BH em função do trabalho, deixando-me para conhecer sua cidade natal e preparar a continuação da cicloviagem. Antes disso fomos, acompanhados da Denise, ao centro da cidade para que elas pudessem comprar algumas coisas necessárias à casa!
Michel foi meu guia nos dois dias seguintes e, como bom "rueiro" que é, levou-me a caminhar bastante pelo centro da cidade! Impressionante a quantidade de pessoas conhecidas com as quais ia se deparando desde o momento que saímos até o momento que voltamos à casa... eu perdia as contas! É contrastante para um típico brasiliense, tão habituado a sequer saber o nome do vizinho (e me insiro nesse grupo). Andamos por botequins, praças e entramos em uma das maiores igrejas da cidade enquanto acontecia missa! Michel foi comungar e eu fiquei ali, apreciando as decorações pintadas no teto e nas arquitraves do interior do edifício! Corremos para uma padaria e compramos algumas coisas para lanchinhos e café da manhã. Na Terça, 24/10, meu último dia em Juiz de Fora, saímos à procura de uma loja de peças para bicicleta pois constatei que havia esquecido as porcas das rodas em BH! Resolvido esse problema, Michel me levou a uma praça onde uma ótima pastelaria dispõe suas mesas sob as árvores muito copadas. Ali fizemos um lanche e o cheiro logo atraiu os saguis (macaquinhos da espécie Calithrix). Michel trouxe lá da pastelaria (pra variar, de conhecidos) uma banana e já ia os alimentando!





"Namoradinha" jazia desmontada em um quarto-depósito da casa quando chegamos já um pouco tarde da noite. Organizei os alforges e remontei as rodas da bike! Mais uma vez me via naquela ansiedade que antecede a partida para a estrada e tudo que ela envolve: deixar para trás os confortos da cama macia, do assegurado banho quente, comida caseira e os amigos que já me faziam sentir em casa, quase parte da família! 
Não tenho palavras que descrevam com exatidão meu sentimento pela acolhida que me foi dada nesta casa simples e aconchegante, de família gentil e hospitaleira! Ali pesa uma grande ausência da matriarca da família que foi caminhar nas estrelas há algum tempo, evento que motivou Anna a me encontrar para aulas de violino (pois a mãe tocava violino). Seu Wagner, com quem Michel e eu nos divertimos assistindo partidas de sinuca na TV, foi-me muito atencioso e convidou-me a voltar sem demora pois ali seria recebido como um filho! Denise é uma pessoa gostosa demais de conhecer e me foi bastante solícita e gentil;  Todos estiveram atentos com meu bem-estar e foi num misto de saudade adiantada e gratidão que dormi minha última noite ali!

Muito obrigado Michel, Denise, seu Wagner e Guto pelas gostosas lembranças que tive para contar aqui! Espero revê-los um dia, com certeza!




O Cine Teatro Central, belo edifício em estilo art decó no centro de JDF


Com Michel e Anna no Cine-Teatro Central

Olha que beleza de decoração no teto!



Denise e Seu Wagner no momento da minha partida para a estrada



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